quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Nostálgico eu

Faz-me lembrar da época das cores
Dos dias vividos no quarto em desordem
Da época em que minhas mãos eram sujas de tinta
Aquarela, óleo, pastel, grafite, sensações de acrílico.
Quando recordo sinto o cheiro, a textura.

Faz-me lembrar da época de noites de estudo
Dos dias de criação, madrugadas viajadas em esboços.
O casaco manchado e o amanhecer violeta gelado
O café de ontem, e os cigarros fumados na janela.
O velho sol, que fazia meu cabelo polvilho de ouro.

Faz-me lembrar da época sem sono
Quando eu tinha olheiras fundas e unhas compridas
Ficava no quintal com idéias efervescendo na cabeça
E os beija-flores ainda vagavam pelos espaços da goiabeira
E eu ainda sonhava em expor pinturas infantis
E eu ainda escrevia histórias da carochinha

Faz-me lembrar da época em que eu sabia usar a maconha
Das dores na coluna após um passeio na biblioteca
Da época em que gozava, deitado no chão ouvindo a quinta de Beethoven.
Quando eu queria ser um Baudelaire em meus paraísos artificiais
Ou ainda João Gilberto dentro do guarda roupa com minha bossa

Faz-me lembrar do mundo quando era colorido
O sol batia e explodia todo sentido ou razão, subjetivo e cool.
A musica era tropicalista e você era minha pequena
As relações eram conturbadas como Dostoievski
Os bares morriam numa quarta por serem Kafkanianos
Uma época em que deus tocava órgão a todo instante
E tudo era romântico, belo, triste, contraditório e novo.

Atentados

Em meio a grande massa turva, krystyna sabe que está só
Essa política que não é nossa, impediu-nos o sorriso
Atrelados a grade, bastasse a minha, mas também a sua
[face]
Pega krystyna! O que nos é dado a catarradas.

Toda a banda e coro do exército soviético me conduzem à marcha
Sinta agora o óleo diesel krystyna, pois nasce agora o seu filho morto
Nesse tempo, vida humana não vale mais que o tenro pão
Não temas o que está no céu krystyna, há estilhaços e bombas no chão

Natureza não mais, veja, respire, matéria plástica e máquina
Ferro quente não tem o calor que desejas, brasa não queima seu ardor!
Ama-te krystyna, amor produto da violência, ama-te em meio a escombros
Queimas agora krystyna, em fogo lancinante, em meio a praça central
Minha poesia é mais que cheiro acre de gasolina
É emaranhado vazio de tudo o que não existe
É o beijo sincero com amor que João da em Maria
É a pétala de ódio que brota na rosa flor.

Sofredor pelo excesso de verdade e mentira
Una-se a mim. No clube do desgosto racional
Conquistador barato pela carência afetiva
Una-se a mim. No clube do prazer banal

Nossas malas abarrotadas de sonhos malucos
Veste essa fantasia e vamos dançar perante a tristeza
Subo uma longa escada pelo espaço de cérebros ocos
E lhe apanho a estrela com mais escarlate beleza

sábado, 7 de novembro de 2009

8 às 2

Hora após hora
até agora
Biblioteca em solidão

Eis que, no saguão:

Vendo fotografias
em exposição
Aqueles pezinhos.
Ai, que tezão....